terça-feira, 2 de setembro de 2008

KL Jay: "Hip Hop é diamante que vem do barro"


KL Jay: "Hip Hop é diamante que vem do barro"
Categorias: DJ, Música, Fique de Olho, Cidadania, Entrevista

(Foto: Bordo Fotoz)

“Efeito colateral do sistema” frase predileta de Kleber Geraldo Lelis Simões, ou o mais conhecido KL Jay - o DJ que faz as bases eletrônicas para os Racionais MCs, que lança seu terceiro trabalho solo, o CD e DVD “Rotação 33”.
Trinta minutos de viradas com vinis de rap brasileiro em que reuniu os nomes mais quentes do movimento hip-hop, e suas rimas “para inspirar a molecada”.
O Repique conversa com ele, que defende que, nessa vida, estamos todos em busca do “encaixe perfeito” - periferia, Jardins e Buraco Quente.

Como surgiu a idéia de fazer o ‘Rotação 33’?
Surgiu em um dia que estava passando pela Galeria 24 de Maio (no Centro de São Paulo) e um amigo me chamou na loja dele, que vende equipamento pra DJ e oferece curso para molecada, e falou “você tem que fazer uma mixtape porque os meninos estão sem referência”. E aquilo ficou na minha mente. Aí comecei a mexer nos discos, as idéias foram vindo e saiu.
Tomei como referência o Funkmaster Flex, de Nova York que gravou o ‘60 Minutes Of Funk’ – em que ele faz mixtapes com trechos instrumentais de rap e chama os MCs para cantarem em cima.

Chamei todo mundo. Quis fazer bem original, só tocando com vinil, sem edição, tipo jogo de futebol. Ao vivo igual a vida, sem cortes, nem edição. Se errasse tinha que fazer tudo de novo.
Errei várias vezes, imagens foram perdidas, mas saiu.

E você tem tocado bastante?
Graças a Deus, bastante pelo Brasil todo, e aqui em São Paulo, como DJ. Estou feliz de estar entre os grandes – Cia, King, Primo, Nuts... Só não dá para fazer mais por causa do meu compromisso com os Racionais.

Você já viajou pra fora do Brasil?
Com os Racionais já viajei para Alemanha, Japão e Estados Unidos. Na Alemanha tocamos para muito s gringos - que eles curtem bastante nosso som; no Japão e Estados Unidos foi para um público de 95% de brasileiros.

E o que andam fazendo os Racionais MCs?
Estamos fazendo o disco novo. A previsão é que saia no final do ano, mas não vai sair, acho que mais pra março mesmo. Vai ser sensacional. Estamos com outra mentalidade, estamos aprendendo e evoluindo nossa visão de mundo, de música, e como pessoas.

Você acha que Hip Hop virou modinha?
Não! Hip Hop é cultura de rua, dos preto, mêu, que foi pro mundo. Quando você lança uma música, ela deixa de ser sua.
É igual o Robinho quando joga, é pro mundo, pra rico, pobre, branco, preto, vagabundo, filho da puta... A música está aí. A questão é não se deixar corromper. Não vejo nenhum problema em tocar em um pico nos Jardins. Vou lá ganhar minha moeda. É a mesma energia que tocar no Buraco Quente.

Tudo bem, mas as letras contestam o sistema e fica um bando de modelo wannabe rebolando a música com calça da moda.
Antes de ser político, Hip Hop é música. Vira e mexe tem playboy ouvindo no carro um som que o Mano Brown xinga ele na cara, mas se ele se identifica... Fazer o quê?
O protesto já ficou batido. Está na cara de todos, independente de ser protesto, gozolândia ou putaria, o que importa é se a música é boa.
Todo mundo critica a música que o Belo faz. O cara já foi preso e tudo, mas vai ver quando ele faz show, todo mundo canta junto, as mulheres choram.
O Hip Hop continua sendo do gueto. Igual funk carioca. É o diamante que vem do barro.

Que outros movimentos estão rolando na periferia além do Hip Hop e Funk?
Periferia é um monte de coisa- igreja, futebol, funk, rap. Todo mundo vê DVD pirata, TV a cabo pirata. Vai ver a Rihanna – é deusa pras meninas.
O problema é o movimento dos crentes, que arrebanham um monte de ovelha perdida. Respeito todas as religiões, mas tem os fanfarrões que controlam muita gente em nome da espiritualidade. Esses não têm vergonha.

Você é religioso?
Todas as religiões levam para um lugar só. Me identifico com o Budismo mas não sou praticante. Gosto também do Candomblé. Mas minha religião sou eu e o universo. Tento respeitar a lei: o que você fizer, vai voltar pra você. A verdadeira guerra é você contra você mesmo. Pratique a paz, seja pacífico, mas não seja passivo.

E minha política é cuidar dos meus, minha família, meus amigos, fazer meu som. Só tenho muito respeito pelo Senador Eduardo Suplicy.

http://www.djkljay.com/

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